Sábado, 27 de Abril de 2024

DATA: 19/02/2024 | FONTE: Valor Investe Morre em São Paulo, o empresário Abilio Diniz aos 87 anos Empresário estava internado desde janeiro no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, para onde foi transferido após passar mal nos Estados Unidos
Empresário Abilio Diniz - Foto: Reprodução

empresário Abilio Diniz, um dos símbolos do empreendedorismo nacional, morreu hoje, aos 87 anos, de insuficiência respiratória em função de uma pneumonite.

O empresário estava internado desde janeiro no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, para onde foi transferido após passar mal nos Estados Unidos, durante um período de férias com os filhos e a esposa, Geyse. A família estava nas montanhas de Aspen, no Colorado, para onde Abilio ia praticamente todo o início de ano.

Peça crucial na construção do GPA, Abilio tornou a varejista dona do Pão de Açúcar numa potência, especialmente, entre os anos 80 e início os anos 2000, até deixar a companhia, de forma definitiva em 2015, quando vendeu o restante de suas ações. O empresário teve de sair do negócio após uma duríssima batalha pública com seu sócio, o francês Casino, naquele que foi um dos mais difíceis capítulos da vida do empresário.

Extremamente religioso e defensor fervoroso da qualidade de vida (mental e física) e do autoconhecimento, Abilio concentrou boa parte de suas energias nos últimos anos na família e na sua manutenção de sua saúde. Também buscava manter a sua rotina na Península Participações, empresa de investimentos da família Diniz, para se desafiar, algo que considerava fundamental, e continuar a olhar novos projetos.

São Paulo 21/09/1979 - Abílio dos Santos Diniz Empresário - Homenagem a Abílio Diniz como o Comerciante do Ano - Camilo Pena e Murilo Macedo cindecorando Abílio Diniz - Foto João Habenschuss / Agência — Foto: João Habenschuss/Agência O Globo

São Paulo 21/09/1979 - Abílio dos Santos Diniz Empresário - Homenagem a Abílio Diniz como o Comerciante do Ano - Camilo Pena e Murilo Macedo cindecorando Abílio Diniz - Foto João Habenschuss / Agência — Foto: João Habenschuss/Agência O Globo

Após deixar de ser sócio do GPA, quase dez anos atrás, o empresário tornou-se acionista do Carrefour no Brasil e globalmente, e continuava a ter voz ativa nos conselhos de administração no país e na França. A Península é a segunda maior acionista global da rede francesa (8,4% das ações). Ainda tem posição acionária na Wine, Oncoclínicas e Padaria Benjamin, e administra recursos próprios e de terceiros.

Abílio pertenceu, provavelmente, ao ciclo dos grandes empresários brasileiros forjados nas dificuldades da hiperinflação e de uma economia fechada por décadas, e cujas declarações ainda eram vistas como norte para o mercado.

Com o passar dos últimos 15 ou 20 anos, Abilio “paz e amor” como amigos mais próximos diziam, foi abandonando a postura mais rigorosa e de trato difícil, tanto no trabalho como na vida — algo que para muitos teve relação com o seu casamento com Geyse, em 2004, e com o nascimento dos dois filhos mais jovens, Miguel e Rafaela. Ali, Abilio foi pai e marido de um novo jeito, como ele cita em seu livro, de 2016, “Novos Caminhos, Novas Escolhas” , e o fez sentir mais vivo e mais jovem . “Em vez de recolher minha nave, acordando-a, em porto seguro saí para alto mar”, dizia ele.

Na última entrevista ao Valor, em 2022, falou do momento mais difícil de sua vida, como o próprio declarava, a morte de seu filho, João Paulo Diniz, aos 58 anos, em julho de 2022.

“Eu não podia imaginar que nesta vida existisse uma dor tão forte. Nunca. Morrer faz parte da vida. Mas ter uma inversão da curva, onde os mais velhos não são os primeiros. Ele não era só o meu filho, era meu melhor amigo e companheiro. Foi um baque muito forte”, disse.

“Acho que é uma covardia eu parar de existir. Eu tenho de ser forte e continuar. E quero continuar e fazer coisas pelo meu país. Eu preciso me reinventar, faltou um pedaço de mim. Mesmo sem esse pedaço, eu tenho de continuar”, disse ele

Ao lado do seu pai, o português Valentim Diniz, Abilio fundou a primeira unidade do supermercado Pão de Açucar, em abril de 1959. Valentim já tinha uma doceria chamada Pão de Açúcar, cujo nome foi inspirado no tradicional cartão postal do Rio de Janeiro, imagem que avistou ao desembarcar no Brasil.

Um dos episódios mais marcantes em sua trajetória foi o sequestro que sofreu em 1989. Abilio foi feito refém por seis dias por guerrilheiros ligados ao Movimento de Esquerda Revolucionária (MIR) que exigiam um resgate US$ 30 milhões.

 

Um grupo, formado por dez pessoas, sequestrou o empresário na manhã do dia da eleição presidencial, cujos candidatos eram Luis Inácio Lula da Silva (PT) e Fernando Collor de Mello (PRN) — era a primeira eleição direta no Brasil, após a ditadura. Após um cerco de 36 horas, o empresário foi libertado e os sequestradores presos.

São Paulo SP - 17/12/1989 - Polícia - SP - Rapto - Empresário Abílio Diniz, sequestrado em Pinheiros - Negociadores da polícia conversam com os sequestradores e com o empresário Abílio Diniz, pela jan — Foto: Claudinê Petroli/Agência O Globo

São Paulo SP - 17/12/1989 - Polícia - SP - Rapto - Empresário Abílio Diniz, sequestrado em Pinheiros - Negociadores da polícia conversam com os sequestradores e com o empresário Abílio Diniz, pela jan — Foto: Claudinê Petroli/Agência O Globo

Entre 1979 e 1989, Abilio se afastou da varejista devido a desentendimentos familiares. Nesse intervalo de dez anos, integrou o Conselho Monetário Nacional (CMN) após convite do então, ministro do Planejamento, Mario Henrique Simonsen.

Formado na segunda turma do curso de Administração de Empresas, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), em 1956, Abilio tinha grande interesse por pesquisa acadêmica na área de economia. Após a graduação, uma de suas ideias era trabalhar em uma multinacional ou fazer uma pós-graduação nos Estados Unidos e chegou a fazer exames para a Universidade de Michigan, mas quando já estava de malas prontas, seu pai lhe propôs a abertura de um supermercado.

No entanto, Abilio considerava que o período que esteve no CMN foi a década perdida por não ter conseguido fazer muito pelo país e por ter se afastado excessivamente da sua empresa.

No fim dos anos 1980, o Pão de Açúcar enfrentava graves problemas financeiros. Nesse momento, seu pai o convidou a voltar ao negócio, dando lhe plenos poderes. Conhecido por sua personalidade forte, muitas vezes, agressivo nas negociações, Abilio reergueu a empresa e em 1999 vendeu 25% do negócio ao grupo francês Casino para uma injeção de capital para pagar dívidas e acelerar crescimento.

Em 2009, comprou o Ponto Frio e as Casas Bahia. No entanto, a transação com o Casino acabou se tornando, provavelmente, um de seus projetos mais frustrantes.

Abilio tinha Jean-Charles Naouri como sócio, e tentou costurar, em 2011, uma fusão com o Carrefour, mas Naouri, que não estava inicialmente a par da ideia, foi contra a operação. E o contrato assinado permitia que o francês assumisse o grupo em 2012. Na época, o BNDES desistiu de entrar na operação, tornando o acordo mais difícil. Em 2013, Abilio saiu do conselho de administração do GPA.

“Nunca deixe nada ao acaso. Amarre tudo muito bem, nunca deixe pontas soltas”, disse Abilio em seu livro, ao comentar um antigo conselho do pai, e que cabia bem no acordo assinado com o Casino, que o fez deixar o grupo.

“A elaboração do contrato, a maneira como foi feito e o seu conteúdo foram aquilo que classifico como maior erro da minha vida empresarial. Não dediquei a ele toda atenção que merecia, permiti que muitas questões ficassem em aberto”, afirmou na obra.

Galeria Abilio Diniz — Foto: ATENÇÃO: DEFINIR CRÉDITO!

Galeria Abilio Diniz — Foto: Reprodução

Nessa mesma época, o empresário tornou-se investidor na BRF, estreando na área da indústria e voltou ao mercado varejista comprando uma fatia de 10% do Carrefour, se tornando um dos maiores acionistas da rede francesa. A entrada no Carrefour se deu pela Península, que administra um patrimônio de cerca de R$ 12 bilhões. Sua fortuna é estimada pela Forbes em US$ 2,7 bilhões.

Outra marca registrada de Abilio era sua dedicação ao esporte e à religião, ia à missa semanalmente, por influência de sua mãe, Floripes. Em seus dois livros em que conta sua vida, seus valores e abre a sua privacidade, (“Caminhos e Escolhas”, de 2004, e “Novos Caminhos e Novas Escolhas”, de 2016) há um programa espiritual para o leitor com orações para 63 dias.

“Sou um pedinte fervoroso. Você pode perguntar o que eu, um cara bem- posto na vida, poderia pedir. Eu respondo: tenho dívidas e medos como qualquer pessoa”, diz em sue livro. “A fé é o caminho que nos dá uma nova chance sempre. Creia! acredite em você e em Deus. Na fé, tudo cabe”.

No começo de janeiro, Abilio postou em uma rede social: “Eu sempre quis fazer algo de importante nesta vida, deixar a minha marca. Mas, para conseguir isso, era preciso ter uma mentalidade ousada, vencedora. Por isso, eu sempre pensei grande porque ser grande é uma escolha. Basta acreditar e ir atrás”.

O empresário deixa a esposa, Geyze Diniz, com quem teve dois filhos, Rafaela e Miguel. Abilio teve ainda outros quatro filhos do seu primeiro casamento com Maria Auriluce Falleiros — Ana Maria, Adriana, Pedro Paulo e João Paulo (esse último, falecido em 2022).

 

 


 


Por Valor, Valor — São Paulo

Conteúdo publicado originalmente no Valor PRO, serviço de informação em tempo real do Valor Econômico





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