O mês de agosto fechou registrando o valor da arroba do boi gordo a R$ 197,00 em Mato Grosso do Sul. Desde 25 de junho de 2020, segundo cotações levantadas no Estado pela Scot Consultoria, a arroba não era comercializada por preço tão baixo. Somente no mês de agosto deste ano, a queda acumulou 12,2%.
Se considerarmos o período de um ano – entre agosto de 2022 a agosto de 2023 – a queda acumula absurdos 28%. E essa conta tem um resultado ainda mais desastroso para o setor se considerarmos os últimos 2 anos: em 24 de agosto de 2021 a arroba do boi gordo em MS valia R$ 310,00. Comparada com as cotações fechadas no último dia de agosto (arroba a R$ 197,00) a queda atinge 36,5%.
Ruralistas e pecuaristas ouvidos pela coluna Lado Rural são unânimes em afirmar que o excesso de oferta causou a queda dos preços. O excesso de oferta começou com a entrada da pecuária na entressafra, que coincide com a chegada do inverno – que em Mato Grosso do Sul é sinônimo de clima seco e escassez de pastagens.
O excesso de oferta obrigou a indústria a encurtar cada vez mais as escalas de abate. Com escalas curtas e freio de mão puxado para as compras, os frigoríficos mantêm margem de abates confortáveis, o que acaba fomentando a tendência baixista das cotações.
Por outro lado, os pecuaristas na pressão continuam enviando vaca e boi gordos para as indústrias, o que explica o aumento nos abates, mesmo a preços escandalosamente mais baixos. Afinal, do lado de dentro das porteiras, produtor precisa recolher impostos, quitar folha de pagamento, encargos sociais, suplementar o gado, manter a infraestrutura funcionando e não aguenta manter o boi no pasto à espera de preços melhores.
Nesse sentido campanha promovida por entidades ruralistas vem ganhando força nas redes sociais incentivando o pecuarista a segurar o gado no pasto e só vender o necessário.
Para o vice-presidente da Acrissul (Associação dos Criadores de Mato Grosso do Sul), Dácio Queiroz, o achatamento dos preços é resultado de décadas de monopólio dos frigoríficos no Estado. Uma situação agravada com a falta de crédito paras pequenos e médios frigoríficos. "Quando você tem poucos compradores, vigora o monopólio, facilitando a manipulação dos preços", avalia ele.
Pressão incessante
E a pressão não para por aí. Com período das águas se aproximando, as chuvas recuperam os pastos, os custos de produção podem até cair, o boi continua engordando, vem a safra, e tudo começa de novo. É um efeito cascata que empurra o preço da arroba do gado para o fundo do poço – ou além.
Em outras praças não é diferente
Em São Paulo, a capital, a arroba do boi é cotada a R$ 196. Em Goiânia, a indicação é de R$ 192 por arroba de boi gordo. Uberaba registrou um preço de R$ 203 por arroba, enquanto em Dourados, a cotação foi de R$ 198. Em Cuiabá mantém a arroba a R$ 180.
Segundo relatório de pesquisadores do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada) , a pressão sobre os valores do animal vem tanto da oferta quanto da demanda. No campo, além do já maior volume de boi gordo e de fêmeas prontos para o abate, pecuaristas, temendo novas desvalorizações, passaram a ofertar mais lotes de animais no mercado nacional.
Por José Roberto dos Santos