A atitude deveria ser encarada com normalidade, mas diante da atual inversão de valores, demonstrações de honestidade merecem destaque e reconhecimento. É o caso do funcionário público, Ramiro Corrêa, de 37 anos, que depois de encontrar documentos, cartão bancário e mais de R$ 1 mil em dinheiro não descansou até encontrar o dono e devolver os pertences.

Ramiro Corrêa

Ramiro contou à reportagem do Portal Correio do Estado, que por volta das 21h da última terça-feira (7) foi colocar o lixo para fora de casa, na Vila Jacy, ocasião em que se deparou com o que pensou ser um amontoado de panfletos.

Ele disse que inicialmente ficou irritado com a “sujeira” no acesso à garagem do imóvel, mas ainda assim resolveu juntar a papelada. Foi quando percebeu que se tratava de Carteira Nacional de Habilitação (CNH) em nome de Mário Xavier Villamil Gonçalves, além de documento de veículo, cartão bancário, contas pagas e R$ 1.185 em dinheiro.

Depois de juntar documentos, cédulas e faturas, o funcionário público ficou cerca de 10 minutos em frente de casa, mas o dono dos pertences não apareceu. Foi então que ele entrou, contou o fato para a esposa, a advogada Raquel Carvalho.

“Entrei na internet, pesquisei no Facebook e encontrei um monte de Mário Xavier, mas ninguém se parecia com a foto do documento. Minha esposa disse 'precisamos devolver o quanto antes porque a pessoa deve estar precisando”, relatou.

Sem conseguir encontrar o “verdadeiro” Mário Xavier, na manhã seguinte Ramiro decidiu publicar em seu perfil no Facebook, e também em grupos de vendas, fotos dos pertences encontrados e o anúncio de que somente devolveria diretamente ao proprietário. Trinta minutos foram suficientes para que um amigo de Mário entrasse em contato com o servidor informando que conhecia o dono dos pertences.

Este amigo foi quem fez a intermediação e, minutos depois, Mário Xavier, de 30 anos, dono de estacionamento no centro da Capital, ligou e foi até o Ramiro. Depois de conferir dados, como nome de pai, mãe, data de nascimento e fotografia da CNH, o servidor público entregou os pertences ao dono.

“O dinheiro não é meu, foi a primeira coisa que pensei. Todo mundo precisa, ainda mais no começo do ano, mas aquele dinheiro não era meu. Resolvi colocar no Face tudo que achei que era para a pessoa, quando visse, ficasse tranquila com a certeza de que devolveria até mesmo o dinheiro. Fiquei surpreso com a reação das pessoas na rede social. O pessoal trata a honestidade com nobreza tão grande, mas para a minha família é um dever de todo o cidadão. Achei a reação de engrandecimento um exagero porque o cidadão honesto deveria ser tratado com normalidade”, avaliou o funcionário público.

Somente após a devolução dos pertences foi que Ramiro e Raquel contaram para os filhos, Maria Fernanda, 14 anos, e Gustavo, 8. Casal aproveitou o situação para reforçar os ensinamentos com relação a importância de se ter uma postura honesta e devolver o que é dos outros.

CAIU DO BOLSO

Ao Portal Correio do Estado, Mário contou que transitava de moto pela Vila Jacy e não percebeu quando a carteira caiu do bolso. Ele estava em casa, mas precisou sair novamente e não achou sua carteira. Depois de procurar na residência, refazer trajetos pelo bairro e nada encontrar, se conformou com a situação e se programou para comunicar o fato à polícia e pedir o cancelamento do cartão junto ao banco.

No outro dia cedo, quando chegou ao trabalho, Mário recebeu a ligação do filho de um amigo, informando que os documentos foram encontrados e que estavam com Ramiro.

“Fiquei surpreso com a reação dele porque não é todo dia que a gente encontra pessoa honesta. Pensei que ele estava só com os documentos e nem passou pela minha cabeça que todo o dinheiro estava lá. Com uma atitude dessas dá para acreditar que o Brasil ainda pode mudar”, comentou, agradecido, o dono de estacionamento.