O velório do advogado e ex-presidente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) Severino Alves de Moura acontece na Pax Universal, em Aquidauana, nesta sexta-feira (15). Segundo o advogado da família, os resultados dos exames necroscópicos feitos em Campo Grande devem apontar a causa da morte e se Severino já estava morto quando a caminhonete pegou fogo. A vítima teria sido agredida a socos e, mais tarde, encontrada carbonizada em sua caminhonete, na BR-419.
“O corpo foi enviado para Campo Grande ontem à tarde, para exames necroscópicos, que devem sair em uma semana. O laudo vai mostrar o que ocorreu realmente. O corpo chegou ontem à noite”, disse o advogado da família, Marcelo Pontocarrero.
Informações levantadas pela reportagem apontam que os dentes de Severino estariam quebrados, fato que reforça a ideia de que o advogado foi agredido antes da morte, mas a perícia ainda não divulgou resultado preliminar. O enterro está programado para ocorrer às 14h desta sexta-feira (15).
Em entrevista, o delegado Antônio Souza Ribas Júnior, responsável pelas investigações, não confirmou que os dentes de Severino estavam quebrados quando o corpo foi encontrado, mas disse que os funcionários da fazenda confirmaram, em depoimento, ter visto o suspeito agredindo a vítima a socos.
As investigações começaram, em princípio, na tentativa de identificar a vítima, que seria um advogado da cidade. "Fomos até a casa de Severino, onde ele não estava, e ficamos sabendo que ele poderia estar na fazenda de sua propriedade. Uma irmã nos acompanhou até a propriedade, mas nada foi encontrado. Não havias sinais de violências no dois locais", relatou o delegado.
As diligências se estenderam por toda a madrugada e pela manhã, um funcionário relatou às equipes ter visto uma caminhonete parecida com a da vítima indo em direção à fazenda e retornado à tarde. O peão afirmou, ainda, que neste intervalo viu a vítima parar para conversar com um grupo de trabalhadores que faziam uma cerca na propriedade.
Essas pessoas foram identificadas e inicialmente negaram ter trabalhado durante a tarde. A polícia, então, retornou ao local para entrevistar o primeiro funcionário, que voltou a atrás do que tinha dito e retou que o grupo só trabalhou até meio dia. "Muito nervoso, o peão acabou dizendo que uma pessoa do grupo teria pedido para que ele mentisse e informasse que todos haviam trabalhado até o meio dia", disse o delegado.
Confrontado a respeito das contradições, o funcionário que fazia a cerca confirmou que o sobrinho teria discutido com o Severino, quando a vítima voltava para a cidade.
“Houve uma briga de socos entre os familiares até a vítima cair no chão. Os trabalhadores estavam há uma certa distância, mas viram que o autor abandonou sua caminhonete e entrou na caminhonete da vítima. O sobrinho teria dirigido até os trabalhadores e pedido: “Encontro com vocês na rodovia, me busquem lá”. Dois desses empreiteiros pegaram a caminhonete, a mando do suspeito, e o encontraram na rodovia algum tempo depois”, disse.
Rixa antiga
A Polícia Civil já pediu a prisão preventiva do sobrinho. Ele responderá por homicídio e ocultação de cadáver. Foram ouvidas seis pessoas, entre peões e uma familiar que confirmou uma briga antiga por divisão de terras.
“Há um mês o sobrinho já teria mudado um portão de local, que também teria sido motivo de briga. O que pode ter culminado o crime, foi o início da construção de uma cerca na quarta-feira. A estrutura, conforme apurado, iria impedir a passagem de Severino para o embarque de gado”, finalizou o delegado.
Tio e sobrinho possuíam uma extensa lista de boletins de ocorrência, que registravam um contra o outro, devido a essa briga por terra.
“Não dá para informar se Severino já estava morto quando o carro pegou fogo porque dependemos do resultado do laudo pericial. Mas eles brigaram de soco e deve se levar em consideração que o autor tem um tamanho desproporcional à vítima”, disse.
A prisão
A Polícia Civil de Anastácio prendeu por volta de 12h30 desta quinta-feira (14), no Bairro Alto, em Aquidauana, um sobrinho de Severino, que seria o principal suspeito do crime. O homem foi flagrado com galões de gasolina na carroceria de uma Toyota Hilux de cor branca e, no momento em que viu a viatura da Polícia Civil se aproximar, tentou fugir entrando em uma loja, no Bairro Alto.
Agentes do SIG da Polícia Civil levaram o suspeito até a delegacia de Anastácio, onde foi ouvido na companhia de um advogado, e mantido preso à disposição da Justiça.
"Localizamos o autor em Aquidauana. Ele resistiu à prisão, mas foi levado à delegacia. Ele se manteve em silêncio durante o depoimento", disse o delegado.
O achado
O corpo do advogado trabalhista foi encontrado carbonizado na madrugada do dia 14 de dezembro, na BR-419, a 14 km do trevo de Anastácio. Moura estava em uma caminhonete com placas de Anastácio que ficou totalmente destruída.
Foto: Luiz Guido Júnior
O fogo começou por volta das 22h20, do dia anterior, e mobilizou o Corpo de Bombeiros de Aquidauana. Quando os militares chegaram ao local, a caminhonete ainda era consumida pelas chamas. O veículo ficou totalmente destruído.
O corpo de Severino foi levado ao Imol (Instituto Médico Odontológico) de Aquidauana, onde foi reconhecido por familiares. Segundo a família Severino retornava ou se dirigia à sua fazenda nas proximidades, onde costumava pernoitar, devido ao aumento de furto de gado.
Em princípio, o caso foi tratado como acidente, porém a caminhonete não estava batida. Severino trabalhava na área trabalhista e a Polícia Civil investiga o que pode ter causado o fato. O caso foi atendido pelo Corpo de Bombeiros, PRF (Polícia Rodoviária Federal) e Polícia Civil de Aquidauana.
Foto: Luiz Guido Júnior